UFRJ Plural - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Em Pauta

Crimes, violências e outros assuntos pertinentes à sociedade
Rossana Ribeiro

Dr.Miguel Chalub 

A editoria Em pauta desta quinzena trata de assuntos pertinentes e  preocupantes para a nossa sociedade, como casos de violências brutais e crimes divulgados pelas mídias. Para tentar entender o cérebro do indivíduo que comete tais atrocidades, ouvimos o psiquiatra forense Miguel Chalub, professor associado do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRJ.

“A perversidade, o planejamento e a execução, os diversos crimes cometidos em conexão uns com os outros põem à mostra uma grave distorção na formação do caráter e dos critérios sociais, provavelmente frutos do abandono e de exclusão social e da ausência, na infância e adolescente, de um padrão moral que deveria ser transmitido pelos pais e escola e por ele assimilado. Evidentemente trata-se de personalidade que, por diversas razões, não estabeleceu uma norma moral do comportamento”, opina.

“A origem socioeconômica da antijuridicidade das atitudes não excluiu a responsabilidade penal”, acrescenta. Segundo ele, a psicopatia não é uma doença mental, mas uma distorção na formação do caráter. “Trata-se de uma variação anormal (fora das normas) do modo de ser ou de estar no mundo, mas não uma doença”, acrescenta o especialista.

O professor afirma que o indivíduo não nasce psicopata, embora possa haver, em alguns casos, uma base genético-constitucional. “A psicopatia forma-se durante a infância até o in ício da adolescência” , afirma Chalub.

De acordo com seu conceito, a criança pode apresentar alguns sinais que indique que ela pode se tornar um adulto psicopata. “Algumas posturas pessoais e atitudes da criança que mostre um precoce inconformismo social, desafio, não aceitação de regras e outras”, sendo a intervenção dos pais fundamental nesse processo. “A relação precoce entre pais e filhos determinarão, em parte, a formação da personalidade”, alerta o psiquiatra.

Para ele, a imensa maioria dos assassinos não são psicopatas, bem como a maioria  dos psicopatas não cometem delitos. Um dos traços mais característicos do desenvolvimento da personalidade de um psicopata é a falta de incorporação dos valores. “O principal é a falta de incorporação de valores sociais e normas éticas e morais”, afirma.

Miguel Chalub explica, nes ta entrevista ao UFRJ Plural, que a psicopatia é fruto da interação entre a precoce convivência com os pais e o meio ambiente socioeconômico. “Em poucos casos, haverá fatores genético constitucionais. O tratamento possível é uma psicoterapia de base profunda, psicopedagogia, orientação familiar e, em alguns casos, medicamentos”, finaliza.